Resumo: O brinquedo traz sua energia própria de saúde. O psicoterapeuta ou educador pode levar a criança a aprender de que maneira explorar o brinquedo e seu significado no desenvolvimento de sua personalidade A intervenção terapêutica faz-se necessária exatamente para propiciar a evolução da matriz materna, assim como a elaboração da própria brincadeira.
Introdução
Nosso objetivo é abordar os conceitos teóricos e práticos da terapia corporal com crianças e adolescentes, visando concretizar posturas teóricas e condutas práticas em procedimentos terapêuticos.
Nossa contribuição é transmitir as técnicas Neo-Reichiana de terapeutas (Gerda Boyesen, David Boadella (1985), Alexander Lowen and Stanley Keleman), associando a conceitos psicanalíticoas (Klein, Aberastury e Winicott) e psicodrama correspondendo à linguagem do brinquedo.
Nós utilizamos o conceito de “objeto intermediário”, dado pela leituras de Winnicott (1975, 1982a, 1982b, 1990, 1991); o uso de técnicas terapêuticas, em busca de seu fluxo energético, dado pelos conceitos de Reich (1977, 1979); a necessidade de propiciar e facilitar a rematrização de identidade, através dos conceitos de psicodrama; as brincadeiras correspondem ao desenvolvimento da personalidade da criança, de acordo com Aberastury (1968, 1982).
Sua maior contribuição é identificar e mensurar os brinquedos correspondentes ao tipo de energia bloqueada no desenvolvimento psíquico e corporal da criança. Chegamos à conclusão que “o brinquedo simboliza o corpo da criança e pode ser utilizado como uma interpretação e/ou intervenção, sem interromper seu circuito energético.”
Nosso trabalho torna-se uma tarefa de estudar a profilaxia da neurose, ou seja, o acompanhamento de bebês até entrarem na fase da adolescência; conjuntamente com os pais, desde o reconhecimento das couraças e a necessidade de trabalharmos a função terapêutica e pedagógica do brinquedo, na prevenção das couraças. Portanto, sistematizamos os tipos de brinquedos que correspondem ao fluxo energético do desenvolvimento da criança, para que possamos ampliar este espaço interno e evitar os padrões de tensões emocionais.
Este trabalho retrata o dia-dia das crianças, suas buscas de prazeres e a necessidade de serem criativas, quebrando as regras dos jogos, construindo suas próprias regras, sendo fiéis, as suas dores, suas angústias, seus temores; a sua vida, que está tão próxima a sua memória somática de sua concepção, a este fio condutor de sua pulsação energética.
Pretendemos tomar o conceito do brinquedo sob o ponto de vista operativo, integrando seus aspectos pedagógico e terapêutico, pois este objeto corresponde sempre a uma necessidade da criança, no momento em que ela o utiliza.
Consideramos o ato do brincar como forma de a criança adquirir novos conceitos, ampliar sua capacidade de criar e de observar, para que assim ela possa conquistar o sentimento de alegria e saúde mental no desenvolvimento das várias fases de sua vida adulta.
Nosso objetivo científico é a comparação destas características com o brinquedo, determinando a fase da evolução psíquica em que a criança se encontra. Com estes dados, podemos fazer a proposta operativa (uma evolução mais rápida e precisa) que leva ao processo terapêutico e, em termos profiláticos, atinge o desenvolvimento da personalidade da criança com maior eficácia.
Através de uma pesquisa feita no decorrer de muitos anos de estudo e de trabalho clínico, identificamos a energia que diferentes brinquedos e brincadeiras contêm, e seus respectivos significados para a criança, procurando desta maneira descobrir e localizar esta energia em seu corpo.
O brincar reflete o corpo da criança e pode evoluir a partir das ações que dependem de influência e estímulo externos. Este brinkar só terá significado quando seu simbolismo estiver inserido na realidade externa.
O brinquedo traz sua energia própria de saúde, sendo por isto capaz de proporcionar este equilíbrio energético, facilitando a relação com o organismo.
O psicoterapeuta ou educador pode levar a criança a aprender de que maneira explorar o brinquedo e seu significado no desenvolvimento de sua personalidade. O brinquedo simboliza o corpo, e é utilizado como uma interpretação e/ou intervenção no processo psíquico e corporal para localizar a tensão corporal da criança. É um instrumento que facilita a localizar a tensão corporal através do brinquedo.
Localizar tensão corporal da criança através do brinquedo.
Nesta proposta, tratamos o brincar integrado ao processo natural energético, reequilibrando a carga e a descarga de tensões. O terapeuta ou educador tem o papel de facilitador, no sentido de promover esta transfusão de energia através do brincar.
A intervenção terapêutica faz-se necessária exatamente para propiciar a evolução da matriz materna, assim como a elaboração da própria brincadeira.
Nosso objetivo final deve ser a estruturação e a reconstrução de defesas necessárias para um desenvolvimento adequado, para que a criança utilize seu potencial afetivo.
Objetivos do Workshop de Brinquedos
Conclusão
Nossa proposta básica no trabalho psicoterapêutico com crianças e adolescentes refere-se à reconstrução da imagem interna, o que pudemos constatar devido à necessidade de reconstruir a imagem do “brinquedo quebrado”, o qual simboliza o significado de determinado conflito.
Essa reconstrução corresponde a uma fase específica do desenvolvimento do ego, que está bloqueado devido às tensões corporais. Nosso objetivo é reconstruir o fluxo libidinal e o sentimento profundo de ser amado. Nosso objetivo é comparar estes conceitos básicos, detectando de acordo com as características dos brinquedos.
Nosso ultimo objetivo é estruturar e reorganizer os mecanismos de defesa essenciais para o desenvolvimento adequado, para que a criança possa usar o seu potencial afetivo, reduzindo as tensões corporais da criança através do uso do brinquedo e do “brinkar” (Rocha, 2003, 2014a, 2014b).
O objetivo da psicoterapia com a criança é refazer a sua matriz de identidade, o que denominamos de “rematrização de identidade”. Isso para que ela possa reparar situações traumáticas de experiências emocionais dos primeiros momentos de vida.
Como terapeutas de crianças, temos como um dos nossos recursos técnicos “os brinquedos” - que servem como facilitadores para a nossa entrada no mundo da criança, sem interromper seu circuito energético.
A terapia corporal com a criança trata da relação de duas pessoas que brincam juntas, onde o trabalho do terapeuta é trazer a criança para um campo em que ela ainda não brincou. É necessário que o terapeuta esteja trabalhado e aberto na maior amplitude possível deste campo.
A partir dos resultados de nossas pesquisas criamos o “whorkshop de brinquedos” para terapeutas, com o objetivo de ajudá-los a criar condições necessárias para que possam aprender a brincar livremente com a criança. Trabalhando o papel do terapeuta com os brinquedos, procuramos levá-lo “onde ele não brincou” para abrir espaço energético na relação terapeuta-brinquedo-criança.
É muito importante o nosso arcabouço teórico, mas é muito mais importante a peculiaridade de uma relação, onde as respostas estão na própria criança, somente a nossa dedicação amorosa fará com que libertemos da dor de nossas crianças.
Comparando-se os dados das porcentagens dos brinquedos de 1991 até 2013, observa-se que não houve mudanças representativas, fato que indica que a “energia do brinquedo é saudável e que o “brinkar” é por si só a autorregulação e ‘grounding’ da criança.”
Constatamos, ainda, que não existe brinquedo certo ou errado para determinada criança, mas podemos afirmar que existem brinquedos necessários para a evolução de determinadas ansiedades, que fazem parte do desenvolvimento da criança. Constatamos, também, constatar que não existem brinquedos perigosos, mas sim maneiras perigosas de “brinkar”.
O brinquedo simboliza o corpo e a nossa proposta é que a criança resgate o seu movimento e sua pulsação energética através do “brinkando com o corpo”, que significa dar lugar ao sentimento, à reflexão, aos medos, à sensibilidade, à dor, à alegria, ao sofrimento, às tristezas, às dúvidas, aos afetos, à sexualidade.
Enfim, significa dar espaço à inquietude inerente a uma identidade, à busca do processo de conquista da mesma, para que a criança encontre a liberdade e a criatividade através do seu “brinquedo construído.”
Referências
Aberastury, A. (1968). El niño y sus juegos [The child and his games]. (1st Ed.) Buenos Aires: Paidos.
Aberastury, A. (1982). Psicanálise da criança [Child Psychoanalysis]. (Trans. Ana Lúcia Leite de Campos). (1st Ed.) Porto Alegre: Artes Médicas.
Boadella, D. (1985). Nos caminhos de Reich [In the Wake of Reich]. São Paulo: Summus Editorial.
Reich, W. (1977). A função do orgasmo [The Function of the Orgasm]. {Tradução de Maria da Glória Novak. 3rd Ed.) São Paulo: Brasiliense.
Reich, W. (1979). Análise do caráter [Character Analysis]. (Tradução de Maria Lizette Branco e Maria Manuela Pecegueiro. 1st Ed.) São Paulo: Martins Fontes.
Rocha, B. S. Brinkando com o corpo. 3.ed. São Paulo: Editora Arte Ciencia, 2014.
Rocha, B. S. Playing with the body. 1.ed. São Paulo: Editora Arte Ciencia, 2014.
Rocha, B. S. Brinkando na escola. 1.ed. São Paulo: Editora Arte & Ciência, 2003.
Winnicott, D.W. (1975). O brincar e a realidade [Playing and Reality]. Rio de Janeiro: Imago Editora.
Winnicott, D.W. (1982a). A criança e o seu mundo [The Child and his World]. Rio de Janeiro: Zahar Editores.
Winnicott, D.W. (1982b). Da pediatria à psicanálise [Pediatrics to psychoanalysis]. Rio de Janeiro. Francisco Alves Editora.
Winnicott, D.W. (1990). Natureza humana [Human Nature]. Rio de Janeiro: Imago Editora.
Winnicott, D.W. (1991). Holding e interpretação [Holding and Interpretation]. São Paulo: Martins Fontes Editora.